Horário de trabalho. 13:53.
Tédio profundo. Sem fundo. Paredes com fungo azulado.
Confundo minhas certezas. Nesse mar sem sal. Sem açúcar. Sem nada.
Minha impossibilidade de uma simpatia amigável se torna desprovida de
qualquer habilidade automática e educada. Sou má educada. Estou
encucada com não-questões. Com os absurdos. Com a própria
loucura de se pensar que não exista verdades. Que exista verdades. O
suicídio me parece a melhor saída, no entanto o Enigma por trás da morte
me parece amedrontador. Receios. Estou com a voz fechada. Estou
desgastada. Má alimentada pelo mundo.Má alimentada pelo Nada. Pelos
porcos. Pelas vacas. Pelos animais selvagens. Moro em um curral. Talvez
eu seja a palha. Que seca. Que fica lá parada. Esperando ser pisada.
Arrastada pelo vento. Amargo. Que me rodeia. Pelo vento que sem medo me
tormenta. Minhas noites não são mais escuras, meus dias já não são mais
claros. Perdi a capacidade de ler. De contextualizar. Perdi minha
sabedoria. Perdi meus neurônios intelectuais. Perdi minhas obras. Meus
autores. Perdi minhas certezas. Meu sorriso. Até mesmo minhas vírgulas
nos textos andei perdendo. Estou branca. Anêmica. Perdi, até mesmo,
minha cor. Perdi minhas bochechas rosadas e meus lábios avermelhados.
Sinto-me enganada. Fodida. Suja e, completamente, nua.
Não consigo ser simpática com alguma cliente neste meu horário de trabalho. Não consigo fingir ser amável e prestativa. Sou inútil. Não me suporto! Não aguento me enxergar aqui sentada. Perdida. Fracassada. Nascida. Escrava de leis. Regras ininteligíveis. Não tenho papel na sociedade. Não nasci para procriar. Não nasci para estudar. Trabalhar. Ter uma família. Não nasci. Não pedi para nascer. Escolhi ser abortada. Já tentei a mais alta ignorância. Mas, não me desligo das vozes. Desse sentimento de tédio. De porra nenhuma. Caminho arrastada. Obrigada a competir. A implorar. A fazer coisas insuportáveis. Falando essas coisas sinto-me como uma adolescente quando descobre que a vida não era tão bela. Quando descobre que a vida é uma merda. E, a beleza que se vê na vida é algo que o próprio ser humano cria para poder dar algum sentido. Alguma explicação para se viver. Para se intelectualizar de bostas. Se intelectualizar de caralhos e bucetas. Faço parte da manada. Intelectualizada. Pela vida. Limitada.
(respiro profundamente...)
...
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