quarta-feira, 20 de junho de 2012

Conto - Devaneios de um sem-teto


                                                   
     Caminhei em uma velha praça descolorida, encontrei  uma sombra de baixo de um quiosque. Emprestei meu cobertor invisível a um velho amigo e me esquentei, com meu grosso cobertor imaginário. Me sentei à sombra e descansei  meu corpo de atleta.
       Ao amanhecer, acordei com socos e chutes violentos. Pensei que fossem os militares da ditadura, que haviam descoberto que eu era o líder de uma revolução. Mas, na verdade, eram pessoas, que diziam que eu deveria trabalhar e que eu não merecia estar na cidade deles. Fiquei emocionado, eles sabiam que eu era um Rei, e que eu deveria procurar meu castelo.
    Me despedi das pessoas boas. Caminhando com rosto dolorido e com os braços pingando sangue, encontrei vários anjos.  Chamei meu amigo, aquele que emprestei meu cobertor invisível. Os anjos nos deram o que comer, nos ajudaram e disseram frases bonitas. Mas, ainda tinha saudade da velha praça sem cor.
    Voltei, finalmente, para a sombra do quiosque. Conversei sobre Filosofia com meu amigo, só parei de falar quando um homem olhou para nós e disse“Você é doido, igual essa sua mente!”. Não entendi muito bem, acho que ele era doido. Dei breves gargalhadas e me cobri com meu cobertor invisível.

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