sábado, 22 de outubro de 2011

Inquietação mental.

       Em um universo infinito delineia-se um silêncio tedioso, onde há coisas impossíveis,  como bolas flutuantes pegando fogo, umas menores e outras maiores. Há ainda milhares de bolas brilhantes brigando para misturar seus átomos. Neste universo há também milhares, eu disse milhares de galáxias, impossível não? Em uma dessas milhares, há uma galáxia muito antiga, com mais pedras flutuando e pegando fogo, tem também um grande gás fervilhando de energia, eu disse “grande” para dizer o mínimo. Esse gás vive bem no centro de alguma ordem metódica e enigmática, onde a sua volta há mais bolas de cores e temperaturas variadas, seguindo sempre uma mesma trajetória. Dentro de umas das bolas, há varios microorganismos que não param de se movimentar, que vivem em casas microscópicas. Em uma destas casas microscópicas há uma humana dentro tomando seu banho, antes disso ela estava vendo um desenho na tv,  antes  ainda ela tinha acabado de discutir com seu irmão, e antes estava dormindo. Engraçado, não? Apesar de viver em uma bola flutuante, ela se preocupa em tomar seu banho.
        Mas agora ela está saindo do banho. E ao se olhar no espelho, ela depara-se com si mesma, novidade? Nenhuma, afinal o que ela olhava era um espelho. Mas, o que acontece de diferente  ao se olhar no espelho, é que agora ela não estava reparando em sua aparência, ou até em seu corpo. Ela enxergava para dentro de seus olhos, ela viu algo de diferente, talvez tivesse enxergando sua alma. Ao olhar para dentro de seus olhos, ela lembrava do olhar e do sorriso de seu avô, mas o que tinha a ver com o que havia dentro de seus olhos, com o olhar de seu avô? Não sei, mas ela lembrava com tanta intensidade seu avô, que já tinha há deixado muitos anos atrás. Por quê a  deixado? Ele nunca, nunca havia deixado ela, sua presença parecia mais forte a cada ano. Ele não a deixou, algo puxou pela sua alma e levou ele ao desconhecido. Por que isso? E pra quê, qual o sentido de tudo isso?
       Não é injusto, você viver em uma bola flutuante, ter que tolerar viver com outros microrganismos, e ter como preocupação sua aparência, um corpo que com o tempo vai desgastando você querendo ou não, e ainda ter como preocupação quantos bens materiais você pode conseguir, uma casa com piscina, um carro da hora, ou o pior de tudo se apaixonar, ou até ter um amor muito grande por um amigo, pai, irmão, mãe, ou até mesmo... Um grande avô. Quer dizer, num dia eu estava saindo de casa, levando uma flor e um pedaço de bolo, cumprimentando-lhe, sentando em sua poltrona, e sempre acabávamos ficando sem assunto. Não era desconfortável não termos assuntos. Eu o admirava, não sei extamente porquê, em uma das raras conversas que tínhamos, todas eram especiais, não eram conversas jogadas fora. E noutro dia, uma tristeza, vendo seus olhos pessimistas, não brilhando mais como antes. Seu corpo morrendo a cada dia, até que... Até que PUF! Ele some sem ao menos ter uma explicação. Será que isso é justo? O que seria justo para mim? Porque eu não consigo responder isso? Por quê temos que passar por tudo isso? Será que realmente quando chegamos a terra, temos apenas que ganhar aprendizado e assim evoluir nosso espirito, e ai sim continuar o processo da reencarnação? E pra quê tudo isso? Para no final termos uma vida perfeita? O que seria uma vida perfeita mesmo? Por quê achamos impossível acreditar em um Deus, se vivemos em uma bola flutuante? Por quê existiria um Deus? E se existe mesmo, por quê criou o universo? Por quê criou as pessoas? Para combater o mal? Que mal é esse que existe? E Deus, não é tão perfeito e grandioso, o mais forte de todos, que não consegue combater este mal? Se ele quer nos ajudar, por quê criou algo tão injusto como a vida? Será que a vida é realmente injusta? Será que ao morrer, seu corpo apenas se denigre ao vento, e o que resta, somente o que resta, são as lembranças? As lembranças são as únicas coisas que se sobrevivem no tempo? Por quê achamos tantas coisas impossíveis, se temos uma vida tão impossível como essa?
       Essas perguntas sobre a vida, o universo, Deus, parecem estar me aquietando a cada segundo. Sempre achei que se questionar sobre isso, seria inútil. Uma perca de tempo, porque no final sempre desaparecemos. Só que ao desaparecermos, a única coisa que irá nos restar são nossos pensamentos, devo deixar valer a pena poder pensar, perscrutar o conhecimento não só pela razão, mas pelo sentido também. Minha única chance de poder sobreviver, é deixar algum pensamento importante, minha única chance.

sábado, 20 de agosto de 2011

Abrindo a mente


       Caminhando em um trapiche. John, um filósofo e astrofísico que vivia sempre muito estressado com o trabalho e ocupado dando palestras e aulas, se encontrava por incrível que pareça sozinho em seus pensamentos. Observando o pôr-do-sol, onde refletia ao mar, ele quase se emocionava em ver algo tão perfeito e grandioso. Ele sempre passara todos os dias por esse local, mas nunca havia percebido o trapiche e aquela paisagem.
      Agora, ele não queria se preocupar com mais nada, apenas sentir o vento no rosto e só. Perto dali, um mendigo bastante enigmático e observador repara na expressão de John e perturbando seu silêncio o questiona:
     - Olá! O que você está pensando? - John, levando um enorme susto. E se equilibrando para não cair do trapiche, responde irritadamente.
     - Ai! Que susto você me deu! Não estou pensando em nada. Eu te conheço?- Com um sorriso misterioso, o mendigo responde.
     - Minhas sinceras desculpas pelo susto.
     - Você não respondeu minha pergunta. Eu lhe conheço?
     - Bem... Isso não vem ao caso. Pois você não me disse no que estava pensando. - John pensativo. Não entendendo do porquê este homem estar ali para perturbar seus pensamentos. Responde convicto.
     - Não estou pensando em nada! Poderia ir embora? Estou realmente ficando irritado!
     - Desculpe, não foi minha intenção. Mas só peço que me responda a uma pergunta pelo menos. - A fim de não ter outra opção, a não ser responder a dita pergunta, John aceita conversar com este anônimo.
     - Tudo bem, se você se mandar após a pergunta.
     - O que você desejar. Mas então, no que você estava pensando? Creio que sua mente neste momento esteja pensando quanta pertinência a minha. Mas pelo olhar em que você se encontrava e o modo como observava o mar, devia ser um pensamento deveras interessante. Se quiser que eu vá embora agora, tudo bem.
     - Não, tudo bem. Eu só estava imaginando o quanto a vida não faz sentido. Quer dizer, você acorda toda manhã, toma um café, vai trabalhar, namora, sai com os amigos para beber, volta para casa e vai dormir. Só isso. - Com uma voz um pouco exaltada, e observando o mar, continuou. - Caramba! Estamos flutuando no espaço, será que ninguém se dá conta disso? Será que as pessoas acham tudo isto perfeitamente normal? Aposto que você esteja pensando que sou louco ou algo assim. Mas você fez sua pergunta, teve sua resposta. Peço que vá embora agora! - O anônimo fitando-o, com um olhar orgulhoso, o surpreende.
     - Interessante pensamento , John. Era exatamente o que eu estava precisando ouvir de alguém como você.
     - Você sabe meu nome? - Dando poucas gargalhas, o misterioso homem responde.
     - E como eu não saberia? Se importa se eu fizer mais perguntas ? - Com uma expressão assustada, John aceita conversar mais com este anônimo. Mas o que ele queria saber mesmo, era como este homem o conhecia.
     - Tudo bem, mas insisto em saber quem o senhor é, e como me conhece.
     - Tenha paciência John, tudo tem seu tempo. Vamos começar. O que você pensa sobre o universo? Você acha que o universo é eterno, teria ele se criado a partir do nada absoluto? John, isto é naturalmente possível?
     - Bem, penso que estamos ainda na pré-história do entendimento do universo. Sobre achar que ele é eterno, não sei responder.
     - Ok, vamos a uma pergunta muito mais intrigante, John. Quem é você? O que você acha, sobre não poder determinar sua própria aparência? Ou pior ainda ainda não ter decidido ser uma pessoa? A final, o que é mesmo ser uma pessoa? - John, com um olhar confuso. Como se estivesse buscando sua resposta através de teorias, ou livros que vinham em sua mente. Seu cérebro, era como um computador, apenas armazenava pensamentos e lógicas de outras pessoas. Não pensava por si só. Talvez pudéssimos comparar sua mente com uma pessoa obesa e preguiçosa.
     - Nossa! Quantas perguntas.
     - Você não deve procurar quantas perguntas têm John, e sim em quantas respostas você deve achar. Todo dia quando você sair para beber, o que você ganha? Liberdade? Sair um pouco da rotina? Diversão? Não, nada disso. Você ganha apenas...Presta muita atenção no que vou dizer, você ganha apenas uma vaga sensação de felicidade. E quando vai dormir, o que sente? Você sente que algo está faltando dentro de você, um vazio, não é? John, vamos lá, não quero que justamente você passe a pertencer ao clube dos apáticos e indiferentes. Quero que você viva uma vida instigante!
     - Olha, sou um filósofo e astrofísico, sei de muita coisas. Com certeza mais que você, que é apenas um mendigo. Sei as perguntas que devo percorrer e as respostas que devo perscrutar, e se não durmo acredito que seja problema meu. E se você sabe tanto assim sobre mim e sobre a vida. Me responda se realmente existe um Deus. Vamos lá sr. Sabidão.
     - Não John, não sei nada. Minha opinião não importa, sou um mendigo, não está vendo? Mas e você acredita em Deus? Ou mais ainda acredita que ele teria também se criado a partir do nada?
     - Não. Realmente não acredito em Deus. Pra mim isto não passa de um conto para pessoas que tem medo do escuro.
     - E porquê você não acredita em Deus, John?
     - Acho essa história de Deus muito primitiva. E outra você já ouviu falar de Nietzsche, um grande filósofo. Na minha opinião ele revolucionou a filosofia, em afirmar "Deus está morto". Acredito na opinião dele, então para mim não existe. - O mendigo, com uma expressão profundamente preocupada, abaixa a cabeça e o pergunta.
     - Você é realmente um filósofo?
     - Mas, claro que sou! Quer ver meu diploma? Dou aula para uns jovens aqui perto. - O mendigo decepcionado, balbucia em voz baixa.
     - Coitado destes jovens.
     - Ei! Eu ouvi isso. Não sou ruim por não acreditar em Deus. Você é evangélico ou algo assim?
     - Não, não. Reclamei, porque... Bem porque você não é um filósofo de verdade, é um tremendo falsário.
     - Como você ousa dizer isso? Tenho meu diploma, estudei durante muito tempo. Sei muito mais que você, me pergunte qualquer coisa, vamos lá! - Ao ápice da irritação, John, pensa porque ele tinha que estar ali ouvindo sermão de uma pessoa que mora na rua, que não tem o mínimo de educação. Então a fim de trancafiar este mendigo em sua gaiola do pensamento, John queria mostra o quão sábio podia ser.
     - Já fiz minhas perguntas John, você não soube responder. Acho que minhas próximas perguntas, teriam respostas incrédulas como aquelas.
     - Respostas incrédulas? Quem é você, para me dizer isto?
     - A pergunta certa, não é quem eu sou e sim quem você é?
     - Ah sim, acho que já entendi. Através deste método socrático, você pretende ser um novo Sócrates, é isso?
     - Já estudei durante um longo tempo sobre Sócrates, ou melhor nós estudamos. Para falar a verdade você sabe quem eu sou. Mas, continuando, se você é um verdadeiro filósofo, porque fica em busca de opiniões formadas como a de não acreditar em Deus, por ser um pensamento de um grande filósofo? Tem medo do que você possa pensar? - Muito pensativo. John observa ao seu redor, e depois de um tempo, finalmente responde.
    - Não tenho medo. Não acredito, porque tenho amigos astronautas que já foram tantas vezes para o céu e nunca encontraram Deus, nem se quer sentiram sua presença. Por quê eu deveria acreditar, se ele nunca está no céu?
    - E o que você tem a dizer, sobre cirurgiões que abrem as cabeças, e nunca sequer, viram um pensamento? Quer dizer que pensamentos também não existem?
    - Nunca pensei nisso.
    - Talvez você não tenha pensado sobre muitas coisas, não é? - John, abrindo os olhos, e percebendo que suas respostas nunca seriam encontradas, seguindo respostas de outras pessoas. Que deveria apenas refletir sobre outros pensamentos, para ajudar a formular as suas. Descobrindo que não se pode aprender filosofia procurando sobre o quê pensar, e sim em como pensar, responde.
    - É... mesmo eu sendo um "filósofo", acho que eu estava vivendo cegamente. Estou me sentindo como um personagem da teoria de Platão, largando as sombras, largando a caverna. Você é muito inteligente, me ajudou muito. Mas agora me responda, como você sabe tanto sobre mim? Quem é você? - O enigmático mendigo respira profundamente, e responde.
    - Você me criou John, sou a sua consciência.
 
 
 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sem algemas.


Em uma noite tão pouco estrelada, nuvens em conflitos se aglomeram. Suas lágrimas se enchem, garoando os campos úmidos e secos. Abaixo das nuvens, há uma única árvore, nela há folhas e flores invejáveis de tão verdes e belas. Da pra sentir sua vibração de longe; sentir de qual tanta vida existe nela. Mais abaixo se reflete sua sombra, tão tímida e oculta, declarando mistério ao seres vivos que estão dentro dela. Em cima da sombra, há uma garota sentada, de face agrádavel, de cabelos cacheados e longos dançando ao vento. Ela está criando uma história. E eu posso ver seus pensamentos fluírem. Posso testemunhar o escapar de suas palavras. E eu as vejo, sinto sua temperatura. Observo sua cor. As palavras sinuosamente vão sumindo junto com a sombra da árvore. E eu ouço sua melodia, e todo encantamento que há nela. É incrível como a vista de minha janela, pode me proporcionar várias portas á minha psiqué. E as libertar, deixá-las observar ao mais alto céu. E livremente sentir o ar fresco arrepiando a pele. Sentir o frio na barriga. E ainda assim respirar fundo, fechar os ólhos, abrí-los novamente e dizer "eu posso voar".

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